O empreendedorismo digital pode ser um caminho para a inclusão das mulheres na economia, com novas oportunidades de negócios, ganhos de eficiência e melhor acesso a mercados e a cadeias globais de valor. Nesse sentido, o foco de formuladores e executores de políticas públicas não deve ser apenas aumentar o número de mulheres empresárias nos negócios em geral, mas especialmente em atividades de alto impacto e alta geração de renda – como o comércio eletrônico e a economia digital.
Em termos de uso de tecnologia, a diferença de gênero continua significativa em muitos países. Meninas e mulheres permanecem sub-representadas na ciência e nas disciplinas técnicas no ensino superior. De acordo com a UNESCO, apenas 35% dos estudantes de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática são mulheres. Na Europa, as mulheres representam apenas 32% dos graduados em nível de bacharelado e 36% no mestrado. Apenas um em cada cinco especialistas em TIC é mulher.
Uma recente pesquisa baseada na oportunidade-necessidade, explora os principais motivos que levam as mulheres a buscarem o empreendedorismo: (i) tornar-se independente; (ii) obter recompensas financeiras; (iii) a falta de alternativas de emprego; e (iv) mais de um desses motivos. Dados de 25 países de mercados emergentes entre 2010 e 2016, revelam que as recompensas financeiras (manter/aumentar a renda) encorajam as mulheres ao empreendedorismo internacional, enquanto os motivos relacionados à necessidade (falta de alternativas de emprego) levam as mulheres a iniciar negócios em seus países de origem. Além disso, desejos não financeiros (como se tornar independente) têm um impacto negativo no empreendedorismo internacional das mulheres. De acordo com os resultados, a internacionalização motivada pelo desejo de ser independente pode resultar em fracasso, enquanto, a internacionalização costuma ser bem-sucedida quando acontece com base nos esforços das empresárias para explorar oportunidades financeiras (Jafari-Sadeghi et al, 2021).
No mercado europeu, o comércio eletrônico de serviços prestados digitalmente também influencia o empreendedorismo feminino. Ao estudar os dados de 26 países europeus entre 2008–2019, pesquisadores verificaram a importância das importações de serviços prestados digitalmente no empreendedorismo feminino. Contudo, o impacto da exportação de serviços prestados digitalmente ainda é estatisticamente insignificante no mercado europeu. Como as diferenças nas competências digitais e nas intenções de crescimento impedem as mulheres de atuar como provedoras de serviços prestados digitalmente, a exportação desse tipo de serviço pode sustentar a lacuna de gênero existente no empreendedorismo (Gaweł & Mińska-Struzik, 2023).
Em termos práticos, a importação de serviços prestados digitalmente parece apoiar as empreendedoras por meio da redução da distância cultural. Mas ainda são limitadas as competências digitais necessárias para a internacionalização dos empreendimentos femininos. Por essa razão, as políticas comercial, de digitalização e de igualdade de gênero devem visar não apenas apoiar a propensão das mulheres à exportação, mas também devem se concentrar no desenvolvimento de suas competências digitais.(Gaweł & Mińska-Struzik, 2023)
Referências bibliográficas
Gaweł, A., & Mińska-Struzik, E. (2023). The digitalisation as gender equaliser? The import and export of digitally delivered services in shaping female entrepreneurship in European countries. International Journal of Gender and Entrepreneurship. Scopus. https://doi.org/10.1108/IJGE-08-2022-0141
Jafari-Sadeghi, V, Sukumar, APC, Pagán-Castaño, E & Dana, LP (2021). What drives
women towards domestic vs international business venturing? An empirical analysis
in emerging markets. Journal of Business Research, vol. 134, pp. 647-660.
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2021.05.055
United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, 2017, Cracking the code: Girls’ and women’s education in STEM, UNESCO, Paris.
Especialista em Empreendedorismo Internacional, com experiência nas áreas de Estratégia, Marketing, Comunicação Institucional, Transformação Digital e Direito Internacional. Atuação de mais de 10 anos na Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Atração de Investimentos – Apex-Brasil, nas funções de Gestora de Gabinete da Diretoria de Negócios, da Gerência de Relações Institucionais e Governamentais, da Gerência de Novos Negócios e da Gerência Comercial. Doutoranda em Gestão pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e em Direito pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG/IESB, pós-graduação em Direito Tributário e Finanças Públicas pelo Instituto de Direito Público de Brasília – IDP e MBA em Gestão de Projetos pela Universidade de São Paulo – USP/ESALQ.